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Submarinista até o fim: a incrível trajetória do Primeiro-Tenente José Osório, veterano da Segunda Guerra Mundial

Atualizado: 23 de abr.



No oceano da história brasileira, poucos nomes navegam com tanta dignidade quanto o do Primeiro-Tenente José Osório de Oliveira Filho. Aos 102 anos, ele não é apenas um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial — é uma memória viva da Marinha do Brasil, um verdadeiro símbolo de bravura, disciplina e amor à Pátria.


Tudo começou em 1942, quando o Brasil declarou guerra ao Eixo e mobilizou cerca de 7 mil militares para proteger sua extensa costa atlântica. Entre eles, um jovem marinheiro recém-formado pela Escola de Aprendizes-Marinheiros Almirante Batista das Neves, hoje sede do Colégio Naval, em Angra dos Reis (RJ). Foi ali que José Osório iniciou sua jornada, embarcando no poderoso encouraçado São Paulo, um dreadnought de origem britânica que operava pela Marinha desde 1910.


Das baterias antiaéreas ao rádio do submarino


Durante os anos de combate, Osório integrou a Divisão de Artilharia Antiaérea, alimentando os canhões do encouraçado a vapor em longas jornadas de patrulhamento. Seu batismo de fogo foi a bordo do lendário Encouraçado São Paulo, uma das embarcações mais emblemáticas da história naval brasileira. Construído na Inglaterra e incorporado à Marinha do Brasil em 1910, o São Paulo era um dreadnought da classe Minas Geraes, símbolo de uma época em que o Brasil buscava se afirmar como potência naval no Atlântico Sul. Embora já em seus últimos anos de operação na década de 1940, o navio ainda representava imponência e força.


Encouraçado São Paulo
Encouraçado São Paulo

Para o jovem marinheiro, embarcar em uma nave daquela magnitude era mais que uma honra — era um desafio. Trabalhando nas seções internas da artilharia, Osório era responsável por manter os canhões operacionais, garantindo que não faltasse munição durante os exercícios e operações. "O calor das caldeiras, o barulho dos motores e a tensão constante faziam parte do nosso cotidiano", recorda.


Seu desempenho exemplar lhe rendeu a Medalha de Serviços de Guerra com duas estrelas e, mais tarde, a promoção ao oficialato. Mas os anos de guerra não passaram sem deixar marcas profundas, como lembra com pesar:


“Perdi dois amigos Marinheiros que estavam a bordo do cruzador Bahia, que afundou a 800 quilômetros da costa do Rio Grande do Norte”.

Mais tarde, como radiotelegrafista, Osório viveu momentos de intensa tensão em alto-mar, como quando o Navio-Escola Almirante Saldanha enfrentou uma violenta tempestade entre a Suécia e a Noruega, nos anos 1950. “Ficamos à deriva, os mastros quebraram, perdemos contato. Foram dias de angústia”, relata. Seu papel na comunicação foi essencial para restabelecer contato e garantir a segurança da embarcação e de sua tripulação.



A vocação silenciosa: o chamado dos submarinos


Foi na Base Almirante Castro e Silva, na Ilha de Mocanguê (RJ), que o militar encontrou sua verdadeira paixão: o serviço submarino. Mesmo atuando como operador da estação de rádio, ele integrava as tripulações de submarinos sempre que era necessário, participando de missões de instrução e patrulhamento tanto no Brasil quanto no exterior. Em uma das mais emblemáticas missões, integrou a comissão responsável por receber, nos Estados Unidos, os submarinos Humaitá (S14) e Riachuelo (S15), embarcações que fortaleceram a capacidade operacional da Força de Submarinos brasileira.



Uma vida entre gigantes do mar


Ao longo de seus 25 anos de carreira, o Primeiro-Tenente José Osório serviu a bordo de algumas das mais notáveis embarcações da Marinha do Brasil — e até dos Estados Unidos. Sua trajetória começou a bordo do lendário Encouraçado São Paulo (1941–1945), um dos dois dreadnoughts da classe Minas Geraes construídos na Inglaterra. Símbolo da modernização naval brasileira no início do século XX, o São Paulo teve papel estratégico na defesa da costa brasileira durante a Segunda Guerra Mundial, atuando como plataforma de artilharia e navio de patrulha.


Navio-Escola Almirante Saldanha
Navio-Escola Almirante Saldanha

Nos anos de 1950 e 1951, Osório embarcou no Navio-Escola Almirante Saldanha, um veleiro construído em 1934 para a instrução de guardas-marinha. Durante uma viagem de circunavegação, enfrentou uma violenta tormenta no Mar do Norte, entre a Suécia e a Noruega, que quase levou a embarcação a pique. A tripulação ficou à deriva por dias, em uma das experiências mais dramáticas de sua carreira.


Em 1951, passou pelos submarinos S Tymbira (S-12) e Tamoyo (S-13), ambos antigos submarinos da classe Perla, adquiridos de estaleiros italianos nos anos 30, ambos entraram em servico no Brasil em 1937, dando baixa no fim dos anos 50. Durante o serviço no Tamoyo, uma pane elétrica quase causou uma tragédia a bordo, salvando-se poucos de um possível desastre.



Em 1952, participou de treinamentos nos Estados Unidos no submarino USS Diablo (SS-479), da classe Tench, como parte do processo de transferência tecnológica e formação de submarinistas brasileiros.


Pouco depois, integrou a tripulação encarregada de trazer ao Brasil o USS Muskallunge (SS-262), que foi incorporado à Marinha do Brasil como Humaitá (S-14). Servindo nesta embarcação entre 1952 e 1956, Osório participou ativamente das primeiras missões brasileiras com submarinos modernos, consolidando sua experiência na Força de Submarinos.



Encerrando sua carreira, serviu no Contratorpedeiro CT Ajuricaba (D-11) entre 1958 e 1962. Esta embarcação, originalmente o USS Bennett (DD-473) da classe Fletcher, foi transferida ao Brasil em meio ao processo de renovação da frota, sendo empregada em missões de patrulha e escolta no Atlântico Sul durante os anos mais intensos da Guerra Fria.


Contratorpedeiro CT Ajuricaba (D-11)
Contratorpedeiro CT Ajuricaba (D-11)

Com passagem por encouraçados, veleiros, contratorpedeiros e submarinos, a história de José Osório é uma síntese viva da evolução da Marinha do Brasil no século XX.


25 anos de mar, memória e missão


Foram 25 anos de serviço, repletos de experiências inesquecíveis. Ao olhar para trás, o veterano cita uma frase do poeta Khalil Gibran: “Deve existir algo estranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar.” Para ele, o sal do mar e da vida militar se misturam em lembranças de disciplina, companheirismo e superação.


“Ser um ‘homem do mar’ trouxe para mim experiências as quais jamais esperei viver”, afirma. “Agradeço à Marinha do Brasil o tempo que ali permaneci, cumprindo o meu dever como cidadão e como soldado. Usque Ad Sub Aquam Nauta Sum” — “Marinheiro até debaixo d’água”, lema que carrega com orgulho.


Condecorações


🎖️ Catálogo de Medalhas – Primeiro-Tenente José Osório


1. Medalha Mérito Marinheiro (MM)

  • Descrição: Fita azul com faixas brancas laterais e uma faixa verde central. Sobreposta por passador metálico com as letras “MM”.

  • Significado: Condecoração destinada a reconhecer militares da Marinha por bons serviços prestados e dedicação à carreira.


2. Medalha “CT José Moreira Pequeno”

  • Descrição: Medalha circular com o rosto do Capitão-Tenente José Moreira Pequeno em destaque. Traz o nome e a data: “CAMPAÑA A.M. 1994”.

  • Significado: Medalha comemorativa em homenagem ao Oficial da Marinha Brasileira. Muitas vezes vinculada a eventos ou cursos específicos.


3. Distintivo de Submarinista

  • Descrição: Miniatura de um submarino dourado, usado sobre outras condecorações.

  • Significado: Distintivo que identifica militares qualificados em operações submarinas, símbolo da elite da Força de Submarinos da Marinha do Brasil.


4. Medalha Militar por Tempo de Serviço (20 anos)

  • Descrição: Fita amarela com bordas verdes. Condecoração metálica associada à base da fita.

  • Significado: Reconhecimento ao tempo de serviço ativo na Marinha do Brasil. Variantes são dadas por 10, 20 ou 30 anos de serviço.


5. Medalha de Guerra (Segunda Guerra Mundial)

  • Descrição: Fita azul com faixa central branca e uma estrela prateada em destaque.

  • Significado: Medalha criada para homenagear os brasileiros que participaram diretamente da Segunda Guerra Mundial, incluindo ações no Atlântico Sul.


6. Medalha do Pacificador

  • Descrição: Medalha circular de bronze com a imagem de uma figura clássica segurando uma espada apontada para baixo.

  • Significado: Concedida por ações de destaque na manutenção da paz e da ordem, ou em reconhecimento ao comportamento exemplar ao longo da carreira.


Condecorações do Veterano Sr. José Oliveira
Condecorações do Veterano Sr. José Oliveira

Um herói entre nós


A história de José Osório é mais do que um registro de feitos militares: é uma lição viva de dedicação, coragem e patriotismo. Enquanto o tempo passa e os nomes vão se perdendo nos livros, homens como ele continuam nos lembrando que a história é feita, acima de tudo, por aqueles que escolheram servir — mesmo quando isso significava descer às profundezas do mar, literalmente.








Fontes: - Família do Sr. José Osorio - Marinha do Brasil: https://www.agencia.marinha.mil.br/

1 Comment


Vania Kathole
Vania Kathole
Apr 11

Coisa linda e ver um homem com tanto equilibrio emocional como este homem!! acho que a chave da sua logividade esta ai ,a fé que ele carrega e o equilíbrio emociona ai esta a resposta de chegar 101 anos com tamanha saúde ,parabéns marinha do Brasil por celebra esta celebridade Osório chegagado ao 102 anos parabéns ,,que relato emocionante .

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