top of page

A força naval do nordeste: a defesa brasileira no Atlântico Sul durante a Segunda Guerra Mundial

  • Foto do escritor: Fernando Lino Junior
    Fernando Lino Junior
  • há 6 horas
  • 3 min de leitura

Nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial, o Brasil manteve uma posição de neutralidade. No entanto, em fevereiro de 1942, essa neutralidade começou a ruir diante dos ataques do Eixo aos navios mercantes brasileiros. Como retaliação ao apoio declarado do Brasil à Carta do Atlântico e à causa Aliada, submarinos alemães iniciaram uma série de ataques a embarcações brasileiras. O ápice dessa ofensiva ocorreu em agosto do mesmo ano, quando um único submarino afundou cinco navios mercantes e uma escuna, matando 607 civis. Diante desse cenário alarmante, em 31 de agosto de 1942, o governo brasileiro declarou estado de guerra contra a Alemanha Nazista e a Itália Fascista.



Reorganização e Nascimento da Força Naval do Nordeste


A Marinha do Brasil, à época, não possuía os meios ideais para conduzir uma guerra anti-submarino — suas embarcações careciam de sonares modernos e armamentos adequados. Ainda assim, demonstrando bravura, seus navios e tripulações se lançaram ao mar, enfrentando um inimigo muito mais bem equipado. Reconhecendo a urgência da situação, a administração naval iniciou uma reestruturação intensiva. Com apoio da Comissão de Defesa Brasil-Estados Unidos, foi estabelecido um comando unificado para a Força do Atlântico Sul e, no dia 5 de outubro de 1942, foi criada oficialmente a Força Naval do Nordeste (FNNE), sob o comando do então Capitão-de-Mar-e-Guerra Alfredo Carlos Soares Dutra, promovido logo a Contra-Almirante.


A FNNE foi inicialmente composta pelos cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul, pelos varredores de minas (posteriormente corvetas) Carioca, Caravelas, Camaquã e Cabedelo, além dos caça-submarinos Guaporé e Gurupi. Com o tempo, incorporou ainda o navio de apoio Belmonte, um destróier classe Mahan e um submarino classe T.



Missão: Proteger o Atlântico Sul


A principal missão da FNNE era garantir a segurança das rotas marítimas entre Trinidad, no Caribe, e Florianópolis. Durante a guerra, 575 comboios foram escoltados com sucesso, totalizando 3.164 navios mercantes de diversas nações aliadas, inclusive no transporte da Força Expedicionária Brasileira (FEB) rumo a Gibraltar.


Foram registrados 66 confrontos diretos contra submarinos nazistas, ações que ajudaram a manter abertas as vitais linhas de comunicação marítima no Atlântico Sul. Um dos grandes marcos foi o desenvolvimento de doutrinas modernas de guerra anti-submarino, impulsionadas pelo treinamento intensivo de tripulações brasileiras em conjunto com a Marinha dos Estados Unidos.


Cruzador leve Rio Grande do Sul navegando pela Baía de Guanabara
Cruzador leve Rio Grande do Sul navegando pela Baía de Guanabara


A Cooperação com a Quarta Esquadra


Com sede em Recife e Salvador, a FNNE passou a operar subordinada à Quarta Esquadra dos Estados Unidos, comandada pelo enérgico e versátil Almirante Jonas Ingram. Em 1943, cerca de 200 embarcações — brasileiras e norte-americanas — atuavam sob seu comando. A FNNE foi designada como Força-Tarefa 46, e recebeu as seguintes atribuições:


  1. Escoltar comboios regulares entre Trinidad e Bahia.

  2. Integrar-se aos comboios ao largo de Recife, separando-se em sua chegada à Bahia.

  3. Cooperar com unidades aéreas brasileiras (Força-Tarefa 49), responsáveis por patrulhar as águas costeiras.

  4. Garantir cobertura aérea às embarcações, em colaboração com unidades navais e aéreas dos EUA e do Brasil.

  5. Conduzir operações anti-submarino em conjunto ou de forma independente.

  6. Executar programas exaustivos de treinamento e exercícios de combate.


Até o fim de 1944, 38 novos navios foram incorporados à FNNE, modernizando ainda mais sua capacidade de resposta. Curiosamente, até mesmo os antigos encouraçados Minas Gerais e São Paulo, embora ultrapassados para o combate moderno, foram utilizados como baterias flutuantes nos portos de Recife e Salvador, servindo como dissuasores em caso de ataque.



Legado de Bravura e Cooperação


Ao retornar ao Rio de Janeiro em novembro de 1945, a FNNE carregava em sua bagagem um legado de eficiência operacional e cooperação internacional. A experiência acumulada contribuiu diretamente para o desenvolvimento tático da Marinha do Brasil no pós-guerra.

A constante interação entre brasileiros e norte-americanos gerou um alto nível de preparo. Registros fotográficos da época mostram exercícios conjuntos entre destróieres, submarinos e caça-submarinos. Em um deles, um torpedo pode ser visto passando sob um destróier durante uma simulação — testemunho da intensidade do treinamento vivido por aqueles que serviram.


A imagem mostra um encontro entre o Almirante Ingram e o Almirante Guilhem, provavelmente ocorrido no Quartel-General da Quarta Esquadra, em Recife. Ao fundo, uma alegoria típica do Comandante Americano do ComSoLant.
A imagem mostra um encontro entre o Almirante Ingram e o Almirante Guilhem, provavelmente ocorrido no Quartel-General da Quarta Esquadra, em Recife. Ao fundo, uma alegoria típica do Comandante Americano do ComSoLant.

A Força Naval do Nordeste foi, sem dúvida, um dos grandes símbolos da atuação brasileira na Segunda Guerra Mundial. Muito mais do que escoltar navios, ela representou a firme decisão de defender nosso território e nossas águas com coragem, disciplina e profissionalismo.


Fontes: Marinha do Brasil, Sixtant.net

Comments


Redes Sociais

  • Instagram
  • YouTube
  • Facebook
Site melhor visualizado em Desktop
Nos Rastros da História - CNPJ n.º 53.470.661/0001-47 / Rua Coronel Cintra, S/N, Mooca, São Paulo/SP - CEP 03105-050
bottom of page