Como o U-507 colocou o Brasil na 2º Guerra Mundial

Em meados de 1942 a força aérea do Brasil tornou-se ativa na caça e ataque a submarinos alemães, então já estava na luta embora a nação fosse oficialmente neutra, mas entre 15 e 19 de agosto, o naufrágio de seis navios na costa brasileira levou a república à guerra. Notavelmente, o exército queria vingar a morte dos 16 oficiais e 125 homens de seu Sétimo Grupo de Artilharia no navio de passageiros Baependy (afundado em 15 de agosto). O naufrágio do Baependy levantou questões que não foram abordadas, sobre a competência dos líderes do exército que não tomaram as precauções adequadas contra a conhecida ameaça submarina. Eles podem ter pensado que o tráfego costeiro pacífico não seria atacado. Pode confundir os leitores que a Marinha do Brasil não forneceu uma escolta armada. As duas Forças não estavam acostumadas a cooperar e a Marinha ainda não tinha capacidade antissubmarino. Oficial brasileiro da época, Nelson Werneck Sodré, em suas memórias, condenou a inépcia de Dutra e Góes por permitirem uma movimentação de tropas tão obviamente perigosa e a insensibilidade da burocracia do Exército em indenizar os sobreviventes com apenas um mês de pagamento, cujo pagamento foi atrasado. Infelizmente, Sodré fertilizou os rumores criados pelos nazistas sobre a responsabilidade americana pelos naufrágios, dizendo que não havia provas de que os submarinos fossem alemães.
Mapa mostrando os submarinos e navios afundados ao longo da costa brasileira. Ilustração do afundamento do Baependy.
Claro que havia provas, ou Sodré ignorava ou talvez não quisesse acreditar. Tanto a Alemanha quanto a Itália tinham submarinos operando no Atlântico Sul. Em 2 de junho de 1942, a imprensa brasileira noticiou que tripulações aéreas brasileiras voando B-25s haviam afundado dois submarinos italianos. A Rádio Berlim alertou que a retaliação seria rápida. As autoridades de Natal ordenaram um apagão para dificultar os ataques noturnos. Fuzileiros navais da Base Aérea de Natal cavaram trincheiras e montaram metralhadoras. O medo tomou conta do povo de Natal por causa das ameaças de rádio. O governo alemão via a cooperação brasileira com as forças americanas como o fim da neutralidade brasileira e acreditava que quando o Brasil estivesse pronto entraria formalmente na guerra. Da mesma forma, as autoridades alemãs pareciam ofendidas com o fato de uma nulidade militar de raça mista ousar tomar medidas defensivas contra os navios do Eixo. O comandante da Marinha Alemã, Grande Almirante Erich Raeder, em 15 de junho de 1942, reuniu-se com Hitler, que aprovou um ataque maciço de submarino aos portos brasileiros e à navegação de cabotagem, denominado “Operação Brasil”. Depois disso, vários submarinos, variadamente relatados como oito a dez, deixaram os portos franceses para o Atlântico Sul.
A frota brasileira era praticamente obsoleta e não tinha experiência ou embarcações adequadas para combater submarinos. Os grandes canhões de 305 mm em seus dois couraçados de 1910 eram inúteis contra submarinos. Os portos sem redes antissubmarinas estavam indefesos. Os submarinos podiam entrar furtivamente nas grandes baías do Rio de Janeiro e Salvador da Bahia para afundar navios ali ancorados, e em Recife a área protegida pelo paredão era tão pequena que muitos navios ficavam ancorados fora dela. Tornaram-se presas fáceis. Os submarinos alemães encontrariam uma frota brasileira “incapaz de reagir com eficiência a um ataque surpresa”. A dura verdade era que “a extrema fragilidade da defesa naval brasileira era semelhante à do Exército e da recém-criada Força Aérea”. O Brasil estava pagando o preço pela incapacidade dos sucessivos governos de tirar o país de seu profundo subdesenvolvimento desde a queda do império.
O leitor deve lembrar que o Brasil de 1942 era totalmente dependente do mar para o transporte entre suas cidades litorâneas ao norte do Rio de Janeiro. Vitória, Salvador, Maceió, Recife, Natal, Fortaleza, São Luís e Belém eram basicamente ilhas separadas umas das outras por vastas extensões de terra. Os brasileiros, na época, descreviam o país como um arquipélago. Não havia ferrovias de conexão de longa distância ou rodovias para todos os estados. De fato, em 1942-1943, “havia 130 quilômetros de estrada pavimentada naquele vasto país fora das cidades”. A aviação rudimentar estava disponível apenas para uma pequena parcela da elite. O primeiro voo regular entre Rio de Janeiro e São Paulo começou em agosto de 1936 com dois Junkers de fabricação alemã para 17 passageiros. Nesse mesmo ano começou a construção do primeiro aeroporto civil do Brasil, o Santos Dumont do Rio, que só seria concluído em 1947! Significativamente foi construído em aterro na Baía de Guanabara em parte para acomodar os hidroaviões das companhias aéreas internacionais. Tudo movido pela água, o que significava que a economia brasileira poderia ser despedaçada por submarinos. As consequências de tal ataque para a situação política só poderiam ser ruins. Vargas estava se recuperando lentamente de seu acidente automobilístico em maio e não teria condições de manter as coisas em ordem. Além disso, apesar do acordo político-militar firmado com os Estados Unidos em maio, o alto comando brasileiro não tinha pressa em implementá-lo.
Providencialmente, Hitler havia aprovado a “Operação Brasil” com a condição de que antes de seu lançamento deveria haver uma revisão da situação diplomática. Isso levou o plano à chancelaria e à mesa do ex-embaixador no Brasil, Karl Ritter, o mesmo que havia sido declarado “persona non grata” e expulso por Oswaldo Aranha. Ritter foi responsável pela ligação entre o Ministério das Relações Exteriores e os militares. Tal ofensiva submarina contra o Brasil ainda oficialmente neutro significaria expandir a guerra. Ritter argumentou que empurrar o Brasil para o conflito poderia ter consequências negativas para as interações com Chile e Argentina, que ainda mantinham relações diplomáticas e comerciais com o Eixo. Além disso, achava que a Itália e o Japão deveriam ser consultados antes de tal ataque. Do ponto de vista operacional, um ataque foi complicado pela grande distância da Europa e pela vulnerabilidade do submarino durante os 26 dias em rota. Os submarinos teriam que emergir regularmente para recarregar suas baterias e, portanto, seriam vulneráveis a ataques. Era verdade que, como o Brasil era neutro, suas cidades seriam iluminadas à noite, facilitando a visão de alvos em silhueta, e a navegação costeira brasileira provavelmente ainda estaria bem iluminada. Deve-se notar que os ataques submarinos aos portos tiveram alguma precedência recente. Em fevereiro de 1942, um submarino alemão atacou uma refinaria em Aruba e um submarino japonês disparou contra uma refinaria em Santa Bárbara, Califórnia.
Há alguma confusão sobre quando a “Operação Brasil” foi cancelada e quando e quem ordenou os ataques em agosto. O Coronel Durval Lourenço Pereira reconstruiu cuidadosamente as datas e origens das várias ordens e contra-ordens, mostrando que os almirantes Donitz e Raeder em seus depoimentos de defesa durante os julgamentos de Nuremberg e historiadores americanos foram imprecisos quanto ao momento e à responsabilidade. A realidade surpreendente é que, em vez de uma matilha de submarinos, havia apenas um submarino, o U-507, comandado pelo tenente-comandante Harro Schacht, cujos procedimentos de ataque eram surpreendentemente desumanos.
O U-507 foi um dos navios originais designados para a campanha contra o Brasil. Quando o Ministério das Relações Exteriores, isto é, Karl Ritter, se opôs à “Operação Brasil”, ela foi cancelada e os comandantes de submarinos foram instruídos a destruir suas ordens. Eles receberam outras missões no Atlântico. Em 7 de agosto o Tenente Comandante Schacht solicitou por rádio “manobrar livremente” ao longo da costa brasileira. Jürgen Rower, ilustre historiador alemão, ficou intrigado com a missão do U-507, mas suspeitou que ela poderia ter sido motivada pelo desejo de retaliação do comando naval pela participação do Brasil em operações antissubmarinas aliadas. Ele achava que isso contradizia o cancelamento da “Operação Brasil” por Hitler e que era um “erro tolo”. Foi um erro que teve consequências terríveis para os passageiros e tripulantes dos indefesos transportes costeiros brasileiros.

U-156 (primeiro plano) e U-507 (fundo) em 15 de setembro de 1942
Na tarde de 4 de julho de 1942, o U-507 de Schacht e um navio companheiro U-130 entraram em mar aberto do porto de Lorient, na costa da Bretanha. Seu destino era um trecho de oceano entre as pequenas ilhotas brasileiras de São Pedro e São Paulo e as ilhas de Fernando de Noronha. As ilhotas ficam a 590 milhas da costa nordeste do Brasil. Sua missão era patrulhar um dos quadrantes pelos quais a marinha alemã dividia o vasto oceano. A viagem de ida transcorreu sem intercorrências, exceto por um encontro com um destróier equipado com sonar, que detectou o U-507 e lançou quatro cargas de profundidade. As cargas erraram o submarino, mas causaram alguns danos leves que produziram um som alto e constante que Schacht temia poder ser detectado à distância.
Depois de passar pelos Açores, Schacht foi ordenado por rádio a operar em conjunto com o U-130 comandado pelo capitão Ernst Kals e o submarino italiano Pietro Calvi, mas naquele mesmo dia um destróier britânico afundou o Calvi. Na tarde de 23 de julho, os dois submarinos alemães receberam seus quadrantes de patrulha, sendo informados de que o tráfego cruzava esses quadrantes de maneira dispersa na direção nordeste e vice-versa. Eles estavam patrulhando um trecho do estreito do Atlântico entre Dakar e o Brasil, focados em comboios e navios únicos vindos de Trinidad e Georgetown. Suas ordens levaram os dois submarinos em direções autônomas. O próprio Brasil estava além de sua área. Então, como o U-507 foi parar em águas brasileiras?
O U-507 de Schacht estava agora sozinho e não vendo alvos, a tripulação praticou submergir e disparar a arma do convés. Isolado de seus colegas desdobrados no Atlântico Sul, Schacht foi o único comandante que não teve nenhuma “vitória”. Seu companheiro anterior Kals havia afundado dois navios, mas em mais de um mês desde que deixou Lorient, o U-507 não disparou um único torpedo. Durante dez dias não viu nenhum navio, o que o levou a pensar que o tráfego marítimo havia sido desviado para o oeste em direção à costa brasileira. O tédio e o stress devem ter sido corrosivos para o moral da tripulação. Na superfície o calor da zona equatorial, o brilho da luz do sol refletido no mar teriam sido fisicamente drenantes e, enquanto submersos, o fedor dos motores a diesel e o cheiro ácido sulfúrico das baterias elétricas misturavam-se aos odores das roupas sujas. tripulação vestindo os mesmos uniformes por semanas deve ter sido extremamente desagradável. Havia apenas um banheiro disponível para os 56 tripulantes. No dia 3 de agosto o submarino estava a 90 milhas náuticas do litoral cearense quando voltou para o mar aberto. Chegando a um ponto a nordeste das ilhotas de São Pedro e São Paulo, Schacht tomou uma decisão que “traria consequências inesperadas para o esforço de guerra do Eixo”.

O submarino U-507
Na noite de 7 de agosto, ele pediu permissão ao Comando Submarino para operar livremente na costa brasileira. Cerca de 15 horas depois, recebeu o sinal verde do Comando de Submarinos: “Mudar rumo e seguir para Pernambuco”. Essa troca de mensagens de rádio mostra que os historiadores estão errados há décadas ao atribuir os ataques à navegação de cabotagem brasileira ao planejado planejamento da marinha alemã ou a ordens de Hitler. Na realidade, foi a decisão de um subcomandante solitário em busca de vítimas. Coincidiu com a presença de um comboio (AS-4) em Recife pronto para seguir para a África carregando tanques Sherman criticamente importantes para as forças britânicas, e os líderes navais alemães esperavam que o U-507 pudesse causar algum dano a ele e aos comboios subsequentes. Em uma análise relacionada à “Operação Brasil”, os planejadores navais alemães deram a Pernambuco considerável importância para a segurança dos comboios aliados. Em 14 de agosto, uma mensagem de rádio para Schacht enfatizou Recife como um ponto de reabastecimento e de encontro para comboios e navios da Flórida via Georgetown para Natal, Ilha de Santa Helena e Cidade do Cabo. Schacht tinha outras ideias. Pensou em ir para o Rio de Janeiro, no entanto, foi dissuadido por seu suprimento de combustível em declínio. O significado das repetidas instruções do Comando Submarino a Schacht era que ele deveria atacar os comboios aliados em direção à Cidade do Cabo e não a navegação costeira brasileira. Por conta própria, ele fez o oposto. A desobediência de Schacht permitiu que o Comboio AS-4 escapasse ileso? Se sim, talvez ele tenha contribuído para a derrota alemã em El Alamein? Ele aparentemente acreditava que a razão pela qual não havia encontrado navios nos dias anteriores era que os Aliados haviam mudado suas rotas mais para o oeste ao longo da costa brasileira. Ele teve a ideia de que os petroleiros estavam entrando no Atlântico através do Estreito de Magalhães e subindo a costa sul-americana até um ponto de passagem para Freetown na África. Ele se esquivou de Pernambuco, que talvez achasse muito protegido. O Almirante Ingram havia escolhido Recife para seu quartel-general porque acreditava que a proximidade de Recife com o Cabo de São Roque, o local mais próximo da África e, portanto, “ponto mais estratégico da América do Sul”, o tornava o melhor porto para suas operações.
Agosto de 1942 Desastre no Litoral de Sergipe e Bahia
Schacht se instalou no litoral da Bahia e seu grande porto de São Salvador. Lá ele correu menos chance de descoberta antes que ele pudesse atacar. Se o U-507 fosse detectado, poderia mergulhar nas águas profundas da Bahia. O capitão não era covarde, mas era cauteloso. Ele foi um dos 2% dos comandantes de submarinos da Marinha Alemã responsáveis por 30% dos naufrágios durante a guerra. É notável que dos 870 U-boats enviados após o envio dos Aliados, 550 totalmente não afundaram ou danificaram um único navio. De um total de 2.450 navios mercantes aliados enviados para o fundo, 800 foram afundados por apenas 30 comandantes. Harro Schacht estava entre esse número e foi um dos submarinistas mais intrépidos e ousados da Alemanha. Não está claro se ele achava que estava desobedecendo ordens, talvez tenha considerado uma mensagem de rádio de 5 de julho autorizando ataque sem aviso “contra todos os navios mercantes brasileiros, inclusive desarmados e reconhecidos como brasileiros” como sanção suficiente. É claro que a mensagem de 5 de julho não dava permissão para atacar embarcações em águas brasileiras. O Comando de Submarinos Alemão nunca deu ordem para atacar a navegação de cabotagem brasileira. Lembre-se de que Hitler vetou expressamente a “Operação Brasil”. Nos julgamentos de Nuremberg, o Grande Almirante Erich Raeder, comandante da Marinha Alemã, testemunhou que seus submarinos atacaram navios brasileiros porque não tinham uma identificação clara como neutra e que a Alemanha havia aconselhado todos os países sul-americanos a iluminar seus navios para que pudessem ser reconhecidos. à noite. No entanto, o Brasil não foi tão avisado, embora o depoimento de Raeder implicasse que sim. Schacht não sobreviveu por muito tempo a esses eventos e não deixou explicações sobre sua conduta, mas todas as evidências apontam para sua ação como descumprindo ordens ao afundar sete navios em águas costeiras brasileiras. O principal estudioso dos ataques submarinos, Durval Lourenço Pereira, chegou à firme conclusão condenatória: “O massacre nas águas do litoral nordestino aconteceu graças à iniciativa e decisão pessoal do tenente-comandante Harro Schacht”.
Desde fevereiro de 1942, o Brasil havia perdido 12 navios para submarinos do Eixo, mas todos estavam na costa leste dos Estados Unidos ou no Caribe e águas adjacentes. De alguma forma, tais perdas poderiam ser aceitas como custos de fazer negócios atravessando zonas de guerra conhecidas. Ser atacado ao viajar de um estado para outro através de “nossas águas territoriais” provocaria emoções muito diferentes. Enquanto isso, o Atlântico Sul assumiu uma importância crescente no verão de 1942, porque os alemães fecharam com sucesso os comboios britânicos que usavam o Ártico acima da Escandinávia para chegar ao porto russo de Arcanjo. As perdas foram tão grandes que a rota do Ártico teve que ser descontinuada. Roosevelt e Churchill estavam determinados a manter a União Soviética lutando. A melhor rota alternativa era o comboio dos Estados Unidos pelo Atlântico Sul, contornando a África através do Oceano Índico até o Irã e daí por terra até o território soviético. Uma ideia da importância da rota pode ser vista nas 47.874 aeronaves que foram enviadas desmontadas para a Rússia pelo “Corredor Persa”. A rota era cerca de 10.000 milhas náuticas mais longa que a do Ártico, mas não havia outra escolha. Isso fez com que o Brasil e as bases ali ganhassem importância. O Brasil foi literalmente a pedra angular no edifício da guerra logística. E a guerra não estava indo bem para os Aliados. Em 2 de janeiro de 1942, Manila caiu para os japoneses, que também varreram as Índias Orientais Holandesas e, no mês seguinte, os britânicos se renderam a Cingapura, perdendo 130.000 tropas capturadas. O Doolittle Raid em Tóquio em 18 de abril foi preditivo do futuro e aumentou o moral dos Aliados, mas pouco fez para mudar a tendência sombria imediata. No Egito, em 21 de junho, o corpo africano supostamente enfraquecido de Rommel surpreendeu os britânicos ao capturar Tobruk em um combate relativamente breve, perdendo outros 6.000 soldados para as forças nazistas, juntamente com todo o seu armamento. A perda do Canal de Suez surgiu como uma possibilidade alarmante. Os alemães chegariam a 70 milhas de Alexandria antes de serem parados em El Alamein em 29 de junho. Sem dúvida, a guerra poderia ser vencida ou perdida no Atlântico Sul. Os exércitos não podem lutar sem armas e todos os tipos de suprimentos e, portanto, rotas seguras de navegação foram cruciais para obter a vitória. É por isso que o Eixo estava enviando submarinos para o Atlântico Sul e porque os Aliados tiveram que destruí-los.
Comandante Schacht e ilustração do afundamento do Baependy.
Ironicamente, a impaciência e a decisão de Schacht de ir para o Brasil fizeram com que ele perdesse o SS Seatrain Texas, que transportava 250 tanques Sherman navegando para a Cidade do Cabo e, através do Mar Vermelho, para Port Suez. Na Cidade do Cabo, os britânicos deram-lhe o nome de código “Navio do Tesouro”. A história da Marinha Mercante dos EUA concluiu que “Esses tanques Sherman, os primeiros tanques aliados que igualaram o alemão Mark IV Panzer em poder de fogo, foram um fator decisivo na batalha de El Alamein, que começou em 23 de outubro de 1942, e resultou em uma vitória aliada. .” É claro que a intensa cobertura aérea que os aviões do Army Air Corps deram ao Oitavo Exército britânico desempenhou um papel extremamente importante, e eles não estariam lá sem a cooperação brasileira e a base de Parnamirim em Natal.
Deixar seu quadrante designado fez com que o U-507 perdesse os importantes alvos de carga. A próxima ação de Schacht causaria guerra entre Brasil e Alemanha. Ele estava indo para o sul, longe de Recife e em direção a Salvador na Bahia. As instruções do Comando Submarino permitiam atacar sem aviso todos os navios mercantes que cruzassem com suas luzes apagadas. Ele sabia que os navios costeiros brasileiros transportavam carga e passageiros. A rigor, os navios de passageiros não estavam na lista de alvos aprovados, mas ele poderia ter ficado frustrado após 40 dias no mar e ainda carregando seu complemento de 22 torpedos. Ele estava se movendo para sudeste e encontraria o vapor de passageiros Baependy em direção norte-nordeste. O confronto desses dois navios tinha uma certa ironia. Eles tiveram o mesmo local de nascimento, no estaleiro Blohm & Voss em Hamburgo. O Baependy havia sido lançado 40 anos antes e havia caído nas mãos dos brasileiros durante a Primeira Guerra Mundial. O U-507 foi lançado em 1939. O navio brasileiro estava com as luzes acesas, mas sua bandeira e nome estavam no escuro. Ao manobrar para a posição de ataque, Schacht viu uma luz no horizonte, provavelmente outro navio. Se ele agisse rapidamente, poderia fazer duas vítimas. Ele lançou dois torpedos cada um com uma mistura explosiva igual a 280 quilos de TNT.
Eram 18:25h e o incauto Baependy estava a 1.500 metros de distância. A bordo, os brasileiros tinham acabado de jantar e se reuniam para comemorar o aniversário de um tripulante. Soldados, a maioria cariocas, estavam no convés traseiro tocando seus pandeiros, tamborilando em latas e cantando sambas. Esta cena feliz não foi perturbada, pois ambos os torpedos erraram o alvo e continuaram na escuridão. Schacht havia calculado mal a velocidade do Baependy. Ele correu à frente e voltou em um ângulo melhor antes de lançar mais dois torpedos às 19:12h. Em seu diário, ele anotou “dois tiros para evitar qualquer possibilidade de transmissão de rádio pelo vapor”. Um SOS do navio poderia revelar a presença do submarino. Mesmo que o capitão do Baependy pudesse ter visto os torpedos, em sua velocidade de 40 nós, ele não poderia evitá-los. Os dois torpedos atingiram o Baependy com cerca de 30 segundos de intervalo.
Sobreviventes do Baependy
Os 320 passageiros ficaram atordoados, alguns congelados de medo absoluto, outros gritando e tentando alcançar o convés. O capitão Lauro Mourinho dos Reis do Sétimo Grupo de Artilharia lembrou que fragmentos de vidro e madeira voavam em todas as direções cortando e matando indiscriminadamente. O segundo torpedo atingiu a casa de máquinas; as luzes se apagaram, deixando todos lutando por uma saída no escuro. No convés, chamas dispararam na noite. Aconteceu tão rapidamente que, apesar dos esforços frenéticos, apenas um dos botes salva-vidas conseguiu descer. Finalmente, no convés, o capitão Lauro entendeu que tinha que pular ao mar para não ser sugado pelo navio afundando. Um maquinista viu o capitão do navio coberto de sangue na ponte, soando o apito do navio repetidamente enquanto afundava. Aqueles que não sabiam nadar se debatiam inutilmente, enquanto outros se agarravam aos destroços flutuantes. Passaram-se quatro minutos desde o impacto até o navio descer primeiro pela proa. Para os 28 sobreviventes no bote salva-vidas solitário, seria uma longa e dramática noite de terror antes de chegarem à terra.
Schacht sabia que havia atingido um navio de passageiros, mas não fez nada para ajudar os sobreviventes. Em vez disso, ele atacou o segundo navio, o Araraquara, um navio de luxo relativamente novo. Ele observou que ele estava com as luzes acesas e estava “brilhantemente iluminado”, mas faltava qualquer marca de neutralidade. Duas horas depois de afundar o Baependy, o torpedo do U-507 explodiu no meio do navio, mergulhando o Araraquara na escuridão. Ele tombou e quebrou ao meio e em cinco minutos ele e seus 131 passageiros desapareceram. Quatro tripulantes se agarraram aos destroços, um alucinou e se jogou no mar, e os outros viveram para contar a história.

No dia 16 de agosto, às 02:10 da manhã, no litoral norte da Bahia, a terceira vítima foi o Anibal Benevolo, com 154 passageiros e tripulantes a bordo. Dormindo, eles não tiveram tempo para entrar em pânico; o navio afundou em 45 segundos. Apenas quatro tripulantes conseguiram se salvar. U-507 continuou em direção a Salvador. Até agora, foi muito bem sucedido do ponto de vista marcial frio. Os três navios não conseguiram soar um SOS; o submarino alemão avançava sobre Salvador sem ser detectado. Uma das razões pelas quais Schacht escolheu esta região é que a profundidade do mar mergulha de 40 metros ao norte da cidade até 1000 metros na foz da baía. Se descoberto, ele poderia facilmente mergulhar até a profundidade máxima de 230 metros do submarino. Infelizmente para Schacht, nada parecia flutuar na grande baía, exceto um pequeno veleiro que ele não considerava digno de seu aborrecimento. Antes do amanhecer do dia 17, ele voltou para águas profundas, onde às 08:41 avistou um navio a vapor indo para o norte. Era o Itagíba, transportando o restante do Sétimo Grupo de Artilharia do Exército entre outros passageiros. A uma distância de 1000 metros, o torpedo atingiu o navio no meio. Seus passageiros conseguiram descer em botes salva-vidas, embora dois dos botes tenham sido atingidos ou arrastados pelo navio afundando. Dez minutos haviam se passado.
Em um ato de misericórdia temporária, Schacht optou por não afundar o iate Aragipe que veio resgatar as pessoas nos botes salva-vidas lotados. Provavelmente ele simplesmente não queria vir à tona para usar sua arma de convés, para não revelar sua posição. O Aragipe conseguiu reunir 150 sobreviventes aterrorizados; os restos foram recolhidos por dois dos botes salva-vidas. Enquanto isso, em Salvador soou um alarme e os navios ficaram retidos no porto. Um navio, o Arará, sem saber do aviso, foi em meio aos destroços flutuantes para resgatar 18 sobreviventes. Observando através de seu periscópio a 200 metros de distância, ele esperou até que todos estivessem a bordo antes de disparar o torpedo. Levantando o periscópio novamente para examinar a cena, ele só conseguiu ver um bote salva-vidas com cinco “não-brancos” nele.
No final da tarde, Schacht viu um navio de passageiros vindo em sua direção. Era pintado de cinza e não tinha bandeira ou outras marcas de neutralidade. Ele disparou e o torpedo atingiu sua marca, mas não explodiu. O navio sem nome estava se movendo muito rápido para o U-507 pegá-lo antes de alcançar a segurança no porto. Ele anotou em seu diário: “Não é possível detê-lo com artilharia durante o dia, considerando a proximidade do porto e o perigo aéreo”.
USS Somers e o cruzador USS Humboldt
Agora estava claro para as autoridades brasileiras e americanas que submarinos operavam em águas baianas. De Recife, o destróier USS Somers e o cruzador USS Humboldt partiram para o sul, e hidroaviões do esquadrão VP-83 saíram em patrulha. Enquanto isso, Schacht, em 18 de agosto, levou o U-507 para o mar para fazer reparos em um problema mecânico em um tubo de lançamento. O hidroavião PBY Catalina 83P6 o encontrou exposto na superfície e atacou com metralhadoras e cargas de profundidade. O U-507 mergulhou rapidamente. O piloto, tenente John M. Lacey, USN, pensou que o havia afundado porque uma mancha de óleo e bolhas de ar apareceram na superfície. Mas tudo o que o ataque fez foi causar um vazamento em um tanque de óleo. Schacht dirigiu seu barco para o sul em direção a Ilhéus em busca de mais alvos. Mas a única embarcação encontrada foi um pequeno veleiro costeiro, em 19 de agosto, em que sua tripulação embarcou, mas não entendendo português aprendeu nada de útil. A Jacyra carregava um caminhão desmontado, caixas de garrafas vazias e cacau. A tripulação mestiça foi enviada para terra e os alemães explodiram o navio. Por que eles se deram ao trabalho de destruir uma nave tão inofensiva é um mistério. O cheiro de óleo combustível os alertou para o vazamento no tanque e a necessidade de reparos. No dia seguinte, o U-507 voltou à entrada da Baía de Todos os Santos, onde encontrou os faróis apagados, mas estranhamente Salvador ainda estava iluminado. No dia 22 Schacht encontrou o navio sueco Hammarem sem luzes e lançou um torpedo, mas falhou. Um segundo atingiu sua marca, mas não explodiu. Ao amanhecer, ele emergiu e disparou a arma de 105 mm no convés traseiro, atingindo a ponte. A tripulação abandonou o navio em chamas, enquanto Schacht manobrava para disparar seu último torpedo do tubo de popa. Virando para o norte, ele definiu o rumo para a França. Deixou para trás um Brasil sedento de vingança.
Lojas com nomes alemães foram fechadas. A polícia prendeu alemães. O que alguns chamaram de “Pearl Harbor” do Brasil provocou clamorosas manifestações de rua em todo o país. As ruas de Fortaleza, no Ceará, se encheram de gente invadindo lojas de verdadeiros ou supostos alemães e italianos e incendiando-as. A polícia não conseguiu controlar a multidão. Em Vitória, no Espírito Santo, no dia 17 as autoridades não conseguiram reprimir os desordeiros, que destruíram cerca de 25 prédios, mas levaram todos os cidadãos do Eixo sob custódia, enquanto em Belém do Pará, as notícias dos naufrágios resultaram na destruição de cerca de 20 lojas, escritórios , e casas de supostos cidadãos e simpatizantes do Eixo. Em Manaus houve ruidosas manifestações anti-Eixo que viram numerosos cidadãos do Eixo sendo espancados e feridos. Em Natal houve destruição de propriedades do Eixo e “entusiasmo genuíno contra o inimigo pela primeira vez...”. São Paulo viu grandes grupos de estudantes gritando por guerra e um grande número na praça em frente à Catedral clamando por ação. O Consulado dos EUA em Porto Alegre informou que houve um arrombamento sistemático de lojas pertencentes a supostos simpatizantes do Eixo. “Em todo o Consulado, neste minuto, as lojas estão sendo demolidas.” O dano material já foi grande. O povo brasileiro indignado exigiu uma resposta.
Inadvertidamente, o U-507 contribuiria para a eventual vitória dos Aliados por seu ataque não autorizado à navegação brasileira. Depois de puxar o Brasil para a guerra, Schacht retornou à sua base em Lorient, na França. Ao contrário de uma viagem anterior, desta vez não houve medalhas e a recepção não foi calorosa. O U-507 retornou ao mar no final de novembro e viajou de volta ao Brasil, onde patrulhou no Ceará e no Rio Grande do Norte. Na condução dos ataques, Schacht mudou seu procedimento para fazer prisioneiro o capitão do navio predestinado para obter informações precisas sobre cargas e rotas de navegação. No Ano Novo de 1943, ele tinha três capitães da marinha mercante britânica a bordo do U-507. Em um golpe de sorte, em 13 de janeiro de 1943, um USN Catalina PBY, voando para fora da base em Fortaleza, avistou o submarino e lançou quatro cargas de profundidade totalizando 884 quilos de TNT fazendo acertos diretos pondo fim àquele carrasco do Brasil.
As viagens de morte do U-507 foram encerradas graças à aliança brasileiro-americana.
Fonte: Weapons and Warfare - Operation Brazil and Lone Wolf U-507 1942
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