O Dornier Do X, também chamado “Flugschiff” (ou “Barco Voador”, em alemão), foi um épico produto da engenharia aeronáutica germânica. Foi o maior, mais pesado e poderoso hidroavião já fabricado. Em toda história, porém, apenas três unidades do modelo chegaram a ser produzidas.
Foi no início da década de 1920 que o projetista alemão Claudius Dornier, especialista neste tipo de aeronave, começou a construir o gigantesco desafio. Tratava-se da época de ouro dos hidroaviões – que iria durar até o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939.
No período, a aviação comercial estava em plena fase de crescimento. Porém, como os aeroportos ainda tinham pistas relativamente pequenas, as aeronaves de grande porte eram quase sempre hidroaviões, que podiam pousar em baías, portos, rios ou lagos.
Maior que qualquer aeronave até então produzida, o Dornier Do-X teve sua fabricação financiada pelo governo alemão. Como a Alemanha, à época, estava legalmente impedida de construir aviões pelo Tratado de Versalhes, sua montagem foi feita do lado suíço do Lago Constança, na fronteira entre os dois países.
Dornier no Rio de Janeiro, Brasil.
Foram sete anos até o primeiro exemplar ficar pronto, em meados de 1929. O primeiro voo foi realizado, com muito sucesso, em 12 de julho do mesmo ano.
O avião era impressionante sob qualquer ponto de vista: tinha nada menos que doze motores radiais Bristol Jupiter (fabricados sob licença pela Siemens), de 524 HP cada um, montados em tandem em seis naceles duplas. Com seis hélices tratoras e seis hélices impulsoras, podia abrigar até 66 passageiros. Seu peso máximo de decolagem era de 56 toneladas, com velocidade de cruzeiro de 109 MPH.
Suas medidas incluíam ainda surpreendentes 41 metros de comprimento por 48 metros de envergadura e 10 metros de altura. Já as asas tinham a impressionante área de 450 metros quadrados – superior a de um A340-600, que possui 429 metros quadrados.
A primeira deficiência da aeronave, no entanto, foi notada nos primeiros voos de experiência: os motores Jupiter, refrigerados a ar, tendiam a superaquecer e não conseguiam levar o avião além de 1.400 pés em cruzeiro, altitude insuficiente para realizar voos através do Atlântico.
Após 103 voos, em 1930, os Jupiter foram substituídos por 12 motores americanos Curtiss Conqueror, de 12 cilindros em “V” e refrigerados a líquido, eliminando os problemas de superaquecimento. Com 610 HP cada um, os motores podiam fazer o avião cruzar a altitude de 1650 pés (500 metros), sendo o suficiente para atravessar os oceanos com segurança.
Em relação ao luxo e serviço de bordo, o Do-X também surpreendia. Seus passageiros eram recebidos com todo o conforto equivalente ao de um grande navio de passageiros. No deck principal, havia um salão de fumar com bar, sala de jantar e 66 assentos, que podiam ser convertidos em camas, caso os passageiros desejassem dormir.
O cockpit, os compartimentos do navegador, do rádio e dos mecânicos ficavam no deck superior. No deck inferior, ficavam os tanques de combustível. A parte inferior do casco era dividida em nove compartimentos estanques, dois dos quais podiam ser completamente inundados, sem comprometer a flutuabilidade da aeronave.
A intenção por trás dos altos investimentos na construção de uma aeronave tão esplendorosa era atender, com excelência, as viagens da Europa com destino à América do Norte. Este tipo de traslado era oferecido, na época, apenas por navios e alguns dirigíveis comerciais.
Infelizmente, para o Dornier X, os Estados Unidos passavam pela Grande Depressão e não havia mercado para aeronaves de tamanho porte. O seu projeto chegou a ser vendido à empresa aérea Lufhansa, mas não operou por muito tempo. Depois de alguns voos de demonstração em cidades alemãs, a Lufthansa passou a empregar o Do-X em voos para Vienna, Budapeste e Istambul, a partir de 1933.
Entretanto, já em 1934, o “Flugschiff” retornou a Berlin destinado a nunca mais voar. A monstruosa aeronave virou a peça central de um museu aeronáutico. O local, por sua vez, foi destruído em novembro de 1943 durante um bombardeio da inglesa Royal Air Force (RAF), e nada restou do Do-X senão cinzas e destroços.
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