Camp Ingram – Recife: O "Base Fox" da 4ª Frota
- Fernando Lino Junior
- 15 de jun.
- 5 min de leitura

Com a entrada dos EUA na guerra contra Alemanha e Itália, Recife foi transformada de pacata cidade costeira em um importante forte militar aliado no Atlântico Sul. O local recebeu reforços da 4ª Frota e da Força Naval do Nordeste, além de aviões e tropas brasileiras.
Infraestrutura em ritmo acelerado — Expansão em Recife
A transformação de Recife em uma base estratégica dos Aliados exigiu um rápido e maciço esforço de construção. A cidade, até então com estrutura portuária limitada, recebeu investimentos que mudaram drasticamente sua paisagem urbana e militar.



🪖 Camp Ingram
O Camp Ingram foi estabelecido em terra firme, nas proximidades do porto, e servia como o principal acampamento terrestre para as forças navais dos EUA. Entre suas principais estruturas estavam:
Quartéis e alojamentos: Capazes de acomodar milhares de marinheiros e fuzileiros navais americanos, organizados em tendas inicialmente, e mais tarde em edifícios fixos.
Depósitos de munição: Instalações seguras foram construídas em áreas isoladas, com controle rigoroso, destinadas ao armazenamento de torpedos, cargas de profundidade e armamentos navais.
Hospital de Campanha — Knox Field Hospital: Batizado em homenagem ao Secretário da Marinha dos EUA, Frank Knox, o hospital possuía estrutura moderna para a época, com capacidade para realizar desde cirurgias até atendimentos ambulatoriais. Tratava não apenas americanos, mas também brasileiros e britânicos feridos ou doentes.
Estação de Rádio do Pina: Localizada na área do bairro Pina, essa estação de rádio era vital para as comunicações entre navios, aviões e o comando da 4ª Frota. Operava com alta frequência e segurança, sendo monitorada continuamente por técnicos e criptógrafos.
Estaleiros e oficinas navais: No entorno do porto, foram instaladas estruturas para manutenção e reparo de embarcações. Engenheiros civis e militares brasileiros colaboravam com técnicos americanos para garantir a prontidão dos navios.



Sede da 4ª Frota — O Coração Estratégico
A sede da 4ª Frota dos EUA estava localizada em um prédio no centro de Recife, a cerca de 1 km do porto. Essa localização permitia comunicação rápida com o cais e com a Base Fox. O destaque dessa sede era o chamado:
Map Room (Sala de Mapas): Um centro de inteligência onde mapas navais do Atlântico Sul eram atualizados diariamente. O local concentrava informações sobre comboios aliados, posições de submarinos alemães (U-boats) e operações aéreas. Oficiais americanos trabalhavam em conjunto com integrantes da Royal Navy britânica, promovendo a troca constante de dados de inteligência.
Esse esforço de infraestrutura fez de Recife um dos principais centros logísticos dos Aliados no Hemisfério Sul — comparável, em importância, a bases como Dakar e Freetown na África.

Uma motoniveladora recém-descarregada deixa os cais do porto de Recife. Dezenas de máquinas foram utilizadas pelas equipes americanas e brasileiras para erguer diversas instalações militares na cidade. Foto da revista LIFE.



Base Fox — O quartel-general no porto de Recife
Chamado de Recife Harbor Base Fox, o porto tornou-se o principal QG naval, abrigando cerca de 150 a 200 embarcações de 35 tipos diferentes, incluindo navios dos EUA, brasileiros e britânicos.
Entre eles estavam:
O contratorpedeiro USS Memphis, nau capitânia do Almirante Jonas Ingram
Couraçados brasileiros como o São Paulo, atuando como "fortaleza flutuante" no porto.
Cruzadores britânicos como HMS Dorsetshire e Devonshire, já ativos no Atlântico Sul desde o início da guerra.



Incidentes no porto
1. SS Livingston Roe – Maio de 1943
Um incêndio a bordo do petroleiro carregado com milhões de litros de gasolina ameaçou explodir depósitos próximos. Graças à pronta resposta conjunta de marinheiros americanos, britânicos e brasileiros, o sinistro foi contido com heroísmo.
2. USS Gatun – Abril de 1944
Outro incêndio em navio norte-americano, desta vez com carga de combustível de aviação. Novas medidas de segurança foram implementadas em Base Fox, incluindo equipes treinadas para incêndio naval e policiamento intensificado nos navios .
Diplomacia e cooperação
O comando da 4ª Frota em Recife foi liderado pelo vice‑almirante Jonas H. Ingram, que estreitou relações com as Forças Armadas brasileiras e com o presidente Vargas, fortalecendo a cooperação militar bilateral.
Chegaram à cidade personalidades como o Secretário da Marinha Frank Knox e o Chefe das Operações Navais Almirante Ernest King, ressaltando a importância estratégica de Recife para o esforço aliado.





Impacto regional
Recife consolidou‑se como ponto-chave para escolta de comboios entre Brasil, Caribe, África e Europa .
A presença militar gerou efeitos na cidade: construção de infraestrutura, geração de empregos e vínculos com a cultura americana.
Obras como o Knox Field Hospital e a estação de rádio influenciaram o crescimento urbano e tecnológico local.
O Camp Ingram e a Base Fox em Recife foram pilares na proteção do Atlântico Sul durante a guerra. A combinação de esforço militar, cooperação internacional e melhorias logísticas estrategicamente posicionadas fez da cidade um bastião vital na luta contra os U‑boates e na defesa das rotas marítimas. Hoje, aquela era de mobilização translúcida é lembrada como exemplo de parceria e engenhosidade em tempos de crise.
Fontes: Sixtant.net | Life Magazine | Us National Archives
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