top of page

As Últimas 24 Horas da Batalha de Berlim: Hora a Hora do Fim do Terceiro Reich

  • Foto do escritor: Fernando Lino Junior
    Fernando Lino Junior
  • 25 de mai.
  • 10 min de leitura

Berlim, 1º de maio de 1945. A cidade já está devastada, cercada por mais de um milhão de soldados soviéticos. Restam apenas bolsões de resistência esparsos e um comando nazista fragmentado e à beira do colapso. Adolf Hitler está morto desde o dia anterior, e o que se desenrola nas próximas 24 horas é a agonia final do Terceiro Reich. A seguir, uma linha do tempo hora a hora da queda de Berlim e o fim da Segunda Guerra Mundial na Europa.


Uma das últimas imagens de Adolf Hitler.
Uma das últimas imagens de Adolf Hitler.

1º de maio de 1945

00h00: Nas profundezas do Führerbunker, enquanto os sons surdos da artilharia soviética estremecem os escombros da superfície, Joseph Goebbels assume oficialmente o cargo de Chanceler do Reich após o suicídio de Adolf Hitler no dia anterior. Apesar da realidade devastadora ao redor — com Berlim completamente cercada e em ruínas — Goebbels se recusa a aceitar qualquer proposta de rendição. Em sua mente fanática, a derrota representava apenas uma transição para o martírio do nazismo, e não um momento de negociação. Ele insiste em manter a ilusão de uma resistência final, mesmo sabendo que o destino já está selado.


Do lado de fora do bunker, o Exército Vermelho intensifica sua ofensiva final. As colunas soviéticas avançam com precisão pelas últimas avenidas do centro de Berlim, enquanto os canhões de 152 mm concentram fogo sobre as áreas do Tiergarten e da Estação Zoológica — pontos onde ainda há resistência esporádica de tropas alemãs exaustas, incluindo jovens do Volkssturm e soldados da SS. A cada minuto, o som dos disparos se aproxima do coração da cidade, sinalizando que as defesas remanescentes estão sendo esmagadas. Para os civis que ainda respiram nos abrigos, o desespero se mistura ao terror do colapso iminente.



01h00: À 01h00, a escuridão da madrugada é iluminada pelo contínuo clarão das explosões soviéticas que varrem os arredores do Reichstag, símbolo do poder alemão que agora se transforma em ruína. As forças da SS, entrincheiradas em porões e entulhos, ainda resistem com armas leves e lança-foguetes portáteis, muitas vezes disparados às cegas. São homens determinados a lutar até a morte, em sua maioria fanáticos ou soldados sem alternativa de fuga. Os artilheiros soviéticos, por sua vez, não economizam munição: o objetivo é esmagar qualquer foco de resistência antes do avanço final da infantaria. A zona central da cidade se converte em um campo de destruição total, onde cada prédio em pé é um possível ninho de morte.


02h00: Às 02h00, sob o manto da madrugada e com a cidade em ruínas, pequenos grupos remanescentes da Divisão SS Nordland — composta majoritariamente por voluntários estrangeiros escandinavos, franceses e bálticos — fazem uma última tentativa desesperada de romper o cerco soviético. Seu objetivo é alcançar as linhas ocidentais e se render aos Aliados britânicos ou americanos, na esperança de evitar a captura pelos soviéticos. Eles avançam em silêncio pelas margens do rio Spree, utilizando a escuridão como aliada, mas são rapidamente detectados e enfrentam forte resistência nas pontes ainda de pé. Os combates são curtos e brutais. A maioria dos que tentam escapar é abatida ou capturada, selando o destino dessa que foi uma das últimas unidades fanáticas a defender Berlim até o fim.



03h00: Às 03h00, uma série de explosões abala a região da estação Friedrichstraße, onde os túneis do metrô já estavam comprometidos pela água. Ordens anteriores do alto comando alemão haviam determinado a inundação desses túneis como forma de conter o avanço soviético subterrâneo e impedir sua utilização como rota de infiltração. No entanto, essa sabotagem teve consequências trágicas: além de bloquear as passagens, afogou centenas de civis e soldados feridos que buscavam refúgio ali. As explosões desta hora indicam o colapso final das estruturas, enquanto os combates continuam furiosos na superfície, tornando impossível qualquer tentativa de fuga ou reorganização.



04h00: Dentro do abafado e sufocante Führerbunker, Joseph Goebbels redige sua última comunicação oficial: uma carta dirigida ao almirante Karl Dönitz, que fora nomeado por Hitler como seu sucessor político. No texto, Goebbels reafirma sua lealdade fanática ao Führer e expressa total desprezo pela ideia de rendição incondicional. Em vez disso, sugere uma trégua com os soviéticos — algo completamente fora da realidade naquele ponto do conflito. A carta revela tanto o desespero quanto a negação da derrota, enquanto o colapso do regime nazista se acelera do lado de fora, tornando qualquer plano de continuação do governo irrelevante.


05h00: Tropas soviéticas finalmente tomam o antigo Ministério do Interior, um dos últimos edifícios simbólicos ainda sob controle alemão no centro da capital. Com a queda desse ponto estratégico, o colapso da resistência no bairro de Moabit se torna inevitável. O que resta das tropas alemãs na região — compostas por recrutas do Volkssturm, soldados feridos e elementos da SS — começa a se render ou tenta fugir em pequenos grupos desorganizados. Os soviéticos avançam rua por rua, ocupando prédios públicos e varrendo os últimos focos de resistência com lança-chamas e granadas. A conquista desse setor representa o rompimento definitivo das linhas defensivas alemãs no norte de Berlim.



06h00: Com a capital em ruínas e a derrota cada vez mais evidente, o comando soviético envia uma proposta formal de rendição às forças alemãs ainda entrincheiradas no centro de Berlim. Ao contrário das exigências de rendição incondicional feitas anteriormente, esta oferta visa facilitar um cessar-fogo rápido e evitar mais destruição, permitindo uma rendição honrosa aos militares restantes. O general Helmuth Weidling, comandante da guarnição de Berlim, recebe a proposta com seriedade e, pela primeira vez, admite que continuar lutando seria inútil. Ele inicia consultas com seus oficiais mais próximos, ciente de que cada minuto perdido representa mais vidas sacrificadas inutilmente.


07h00: Nos corredores silenciosos do bunker da Chancelaria, Joseph e Magda Goebbels executam um dos atos mais sombrios do colapso nazista: o assassinato de seus seis filhos, com idades entre quatro e doze anos. Convencida de que seus filhos não poderiam viver em um mundo sem o nacional-socialismo, Magda os sedou com calmantes antes que cápsulas de cianeto fossem colocadas em suas bocas por um médico da SS, com auxílio de Ludwig Stumpfegger, o médico pessoal de Hitler. O ambiente, já marcado pela decadência e pelo fim iminente, mergulha num silêncio fúnebre. Após o crime, o casal se prepara para o próprio suicídio, decidido a seguir o destino do Führer e do regime que ajudaram a sustentar.


Corpos de Joseph e Magda Goebbels e seus filhos

08h00: O general Weidling obtém o consentimento de diversos comandantes de batalhão ainda operando em Berlim para iniciar negociações formais de rendição com os soviéticos. A decisão representa um raro momento de racionalidade em meio ao caos, sinalizando que a maioria dos oficiais reconhece a inutilidade de continuar a resistência. Como resposta ao movimento diplomático, a artilharia soviética interrompe temporariamente o bombardeio em setores do centro da cidade, criando um frágil intervalo de silêncio entre os escombros. Esse cessar-fogo parcial é percebido por muitos soldados como o prenúncio do fim, e começa a surgir uma onda de rendições espontâneas entre unidades isoladas.



09h00: Joseph e Magda Goebbels põem fim às suas vidas no pequeno jardim da Chancelaria do Reich, marcando um dos momentos mais trágicos e simbólicos do colapso nazista. Após assassinarem seus filhos, o casal utiliza cápsulas de cianeto e, segundo relatos, Goebbels também atira em si mesmo. Para impedir que seus corpos sejam capturados e exibidos pelos soviéticos, soldados da SS rapidamente os cercam e ateiam fogo aos cadáveres, embora a queima seja incompleta devido às condições precárias e à pressa do momento. Esse suicídio sela o destino do governo nazista, deixando o comando militar em Berlim completamente desarticulado e sinalizando a inevitabilidade do fim da guerra na cidade.


10h00: O general Helmuth Weidling, reconhecendo a derrota inevitável e buscando poupar mais vidas, emite a ordem formal de cessar-fogo em todo o centro de Berlim. A determinação é recebida com alívio silencioso por soldados exaustos, muitos dos quais já estavam dispostos a abandonar a luta. Em um gesto simbólico e carregado de significado, uma bandeira branca é hasteada sobre as ruínas da Chancelaria do Reich, anunciando oficialmente o fim das hostilidades naquela área. A capital, que por meses foi palco de combates ferozes e destruição massiva, começa a se render ao silêncio da rendição, marcando o capítulo final da sangrenta batalha que encerrou a Segunda Guerra Mundial na Europa.



11h00: Às 11h00, os últimos defensores do Reichstag, exaustos e praticamente sem munição, finalmente se rendem às forças soviéticas após dias de combate feroz em torno do icônico prédio. A resistência alemã, composta por soldados da SS e unidades desperadas do Volkssturm, reconhece que não há mais como manter a posição. Com a rendição, o Exército Vermelho consolida seu controle total sobre o distrito de Mitte, o coração político e simbólico de Berlim. Essa conquista marca a conclusão prática da batalha pela cidade, enquanto as tropas soviéticas iniciam operações para garantir a ordem e lidar com os numerosos sobreviventes entre civis e combatentes.


12h00: Tropas soviéticas finalmente penetram no Führerbunker, o último refúgio subterrâneo do regime nazista. Lá, encontram os corpos carbonizados de Joseph e Magda Goebbels, evidência trágica do desespero que dominou os últimos dias da guerra. O corpo de Adolf Hitler já havia sido localizado no dia anterior, parcialmente queimado perto da entrada do bunker. A descoberta reforça o fim simbólico do Terceiro Reich, enquanto os soldados soviéticos tomam conta do local, cientes de que aquela era a marca do colapso definitivo do nazismo em Berlim.



13h00: Apesar do cessar-fogo oficial e da rendição formal em grande parte da cidade, pequenos grupos isolados de soldados alemães persistem em resistir no setor norte de Berlim. Ignorando as ordens de rendição do general Weidling, esses combatentes — em sua maioria jovens e fanáticos — travam confrontos esporádicos e desesperados contra as tropas soviéticas, utilizando o terreno urbano e as ruínas como cobertura. Essas batalhas menores prolongam ainda por algumas horas o sofrimento da população e dificultam a estabilização imediata da cidade pelos vencedores.



14h00: As autoridades soviéticas proclamam o centro de Berlim como “zona segura”, iniciando uma fase de transição do campo de batalha para a administração militar. Esse anúncio visa proteger civis sobreviventes e permitir o início dos trabalhos de socorro, enquanto começa o transporte dos prisioneiros alemães capturados durante a batalha para acampamentos e instalações de detenção fora da cidade. O ambiente, embora ainda marcado pela destruição, começa a tomar contornos de ordem sob a ocupação soviética, sinalizando o início da pacificação da capital.



15h00: O general Helmuth Weidling redige o documento formal de rendição da guarnição de Berlim, reconhecendo oficialmente o fim da resistência alemã na cidade. Após concluir o texto, ele é escoltado por tropas soviéticas até o quartel-general do marechal Georgi Zhukov, comandante das forças soviéticas na ofensiva de Berlim. Essa entrega simboliza a capitulação definitiva e a vitória das tropas soviéticas, encerrando meses de combates brutais e consolidando a presença do Exército Vermelho na capital alemã.


16h00: No distrito de Wedding, os combates ainda persistem com intensidade. Tropas soviéticas avançam cautelosamente pelas avenidas destruídas, apoiadas por blindados T-34 que rompem as defesas alemãs remanescentes. O cenário é de destruição total, com prédios arruinados e ruas tomadas por escombros, dificultando o movimento das forças invasoras. Apesar da resistência esparsa, a superioridade numérica e o poder de fogo soviético tornam inevitável o desmoronamento das últimas posições alemãs naquela área.



17h00: O 8º Exército de Guardas do Exército Vermelho completa a tomada do distrito de Charlottenburg, uma das regiões mais importantes da parte ocidental de Berlim. Com a captura dessa área estratégica, a resistência organizada alemã chega ao fim. Os soldados soviéticos consolidam o controle, varrendo os últimos bolsões isolados de combate e iniciando as operações de ocupação e segurança. A queda de Charlottenburg representa a conclusão final da batalha pela capital alemã, sinalizando que a guerra na Europa está prestes a terminar.



18h00: Com a resistência alemã extinta, as forças soviéticas passam a ocupar sistematicamente os prédios oficiais do governo do Reich ainda de pé. Ministérios, sedes administrativas e estações de comunicação são tomados um a um, encerrando simbolicamente qualquer resquício de autoridade nazista. As transmissões de rádio de Berlim, que por dias haviam transmitido mensagens de resistência e desinformação, cessam completamente, mergulhando a cidade em um silêncio que reflete o colapso total do regime.



19h00: O general Helmuth Weidling assina oficialmente a rendição incondicional da guarnição de Berlim diante dos representantes do comando soviético. Com o ato formalizado, não há mais dúvida: a Batalha de Berlim chegou ao fim. Em diversos pontos da cidade, os soviéticos celebram a vitória com tiros festivos de artilharia e toques improvisados de sinos, usando capacetes e peças metálicas. Para o Exército Vermelho, trata-se da consagração de uma conquista duramente alcançada e da vingança definitiva contra os horrores impostos pelo Terceiro Reich.


Marechal Georgi Zhukov
Marechal Georgi Zhukov

20h00: O marechal Georgi Zhukov transmite uma mensagem direta a Josef Stalin, anunciando oficialmente a captura de Berlim. O comunicado representa o ponto culminante da ofensiva soviética e um marco na história da Segunda Guerra Mundial. Para Stalin, é uma vitória política e militar de proporções imensas, consolidando a imagem da União Soviética como protagonista na derrota do nazismo. A notícia rapidamente se espalha entre as fileiras soviéticas, gerando celebrações espontâneas entre os soldados após semanas de combates brutais.



21h00: Às 21h00, longas colunas de soldados alemães rendidos começam a ser organizadas e escoltadas por tropas soviéticas rumo a campos de prisioneiros improvisados nos arredores da cidade. O número de capturados é impressionante: estima-se que mais de 130 mil combatentes tenham se rendido durante a batalha. Exaustos, muitos caminham em silêncio, sem saber qual será seu destino. Para os soviéticos, é uma operação logística colossal, enquanto para os alemães, é o início de uma dura realidade de cativeiro e consequências da guerra perdida.


22h00: A bandeira vermelha da União Soviética é hasteada solenemente sobre os escombros da Chancelaria do Reich, agora reduzida a ruínas. O gesto, carregado de simbolismo, representa o triunfo definitivo sobre o coração do regime nazista. Equipes soviéticas iniciam imediatamente a coleta de documentos, objetos pessoais e restos mortais encontrados no bunker e nos prédios ao redor, com o objetivo de registrar e investigar os momentos finais da liderança nazista. É o início de um processo de reconstrução histórica sobre o colapso do Terceiro Reich.



23h00: Os últimos tiros esparsos, vindos de soldados isolados ou civis armados, finalmente cessam. Pela primeira vez em dias, a cidade mergulha em um silêncio estranho e pesado, quebrado apenas pelos sons distantes dos veículos soviéticos e dos passos sobre os escombros. Berlim, devastada e sem vida, está agora totalmente sob controle soviético. O fim da batalha representa não só a queda de uma capital, mas o colapso definitivo de um império construído sobre violência, ideologia e guerra.


00h00: À 00h00 do dia 2 de maio de 1945, a Batalha de Berlim é oficialmente declarada encerrada. A cidade está ocupada, a resistência foi esmagada e não restam mais focos de combate. O Terceiro Reich, que por doze anos propagou a ideia de um império milenar, colapsa em meio a ruínas, corpos e fumaça. Os símbolos do poder nazista, que dominaram a Europa com ferro e fogo, agora jazem sob os escombros de sua própria capital. Para os soldados soviéticos, era o triunfo final; para os alemães, o início de uma longa e dolorosa ocupação.



Considerações Finais


As últimas 24 horas da Batalha de Berlim foram uma síntese brutal do que representou toda a Segunda Guerra Mundial: destruição em massa, coragem e desespero, decisões trágicas e o colapso de um regime construído sobre o ódio. Berlim tornou-se o palco do desfecho de um conflito que ceifou dezenas de milhões de vidas e redesenhou o mapa político do mundo. Com a queda da capital nazista, encerrava-se um dos capítulos mais sombrios da história moderna — e começava, sob as cinzas da guerra, a reconstrução da Europa.


Comentários


Redes Sociais

  • Instagram
  • YouTube
  • Facebook
Site melhor visualizado em Desktop
Nos Rastros da História - CNPJ n.º 53.470.661/0001-47 / Rua Coronel Cintra, S/N, Mooca, São Paulo/SP - CEP 03105-050
bottom of page