
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Amapá, uma região remota no norte do Brasil, foi palco de uma das iniciativas mais estratégicas e curiosas do conflito: a construção de uma base aeronaval. Localizada ao longo do Rio Amapá Grande, essa instalação desempenhou um papel crucial no apoio às operações navais e aéreas aliadas, envolvendo aeronaves de patrulha e dirigíveis. Entre desafios logísticos e heroísmo, a base se tornou um marco na defesa e logística na região amazônica.
A Construção da Base
A construção da base no Amapá foi iniciada em 22 de junho de 1943. O Exército dos EUA já havia preparado parte da infraestrutura: uma pista de grama de 5.000 pés e 3.000 pés de uma pista de concreto planejada para 5.000 pés. A Marinha dos EUA complementou o trabalho com instalações específicas para abrigar tripulações, refeitórios e uma área de decolagem para dirigíveis.
A obra foi conduzida no âmbito do Airport Development Program e contou com a colaboração da Panair do Brasil, subsidiária da Pan Am, e do Departamento de Engenharia dos EUA (USED). Em meio à densa floresta amazônica, foi necessário abrir clareiras e nivelar terrenos em áreas alagadiças para a construção. Além disso, ergueram-se mastros de ancoragem para os dirigíveis e uma torre de controle.
Operações e Importância Estratégica
A NAF Amapá (Naval Air Facility Amapá) foi formalmente estabelecida em 26 de novembro de 1943. Ela compartilhava o espaço com a Força Aérea do Exército dos EUA (USAAF) e apoiava principalmente aeronaves terrestres como os bombardeiros PB4Y-1 Liberator.
Os dirigíveis, incluindo o ZPK-118, desempenharam um papel essencial nas operações de busca e salvamento (SAR). Eles eram fundamentais para localizar tripulações de aviões abatidos sobre a floresta e no oceano. Além disso, os dirigíveis auxiliaram no resgate de sobreviventes de navios afundados no Atlântico Sul, salvando 96 das 125 pessoas resgatadas de embarcações bloqueadas pela Quarta Frota dos EUA.
O Esquadrão VP-94, operando os versáteis hidroaviões PBY-5A Catalina, utilizava a base regularmente. Essas aeronaves ofereciam cobertura de patrulha antissubmarino (ASW) para rotas de comboio entre Trinidad, nas Índias Ocidentais Britânicas, e a Bahia, no Brasil. A base também funcionava como ponto de reabastecimento para aeronaves da Naval Air Transport Service (NATS).
Desafios no Coração da Amazônia
A localização isolada da base, a cerca de 412 km ao noroeste de Belém, representava um desafio constante. Com uma única pista de 4.000 pés e instalações limitadas, os homens enfrentavam condições adversas, incluindo clima tropical, doenças e a falta de atividades recreativas. Apesar disso, a infraestrutura foi gradualmente melhorada, tornando a base relativamente confortável para os padrões da época.
O espaço aéreo entre Belém e Georgetown, na Guiana, era uma rota perigosa devido às frequentes tempestades, falhas mecânicas e desafios de navegação. Um caso emblemático ocorreu em 10 de fevereiro de 1943, quando dois bombardeiros B-25 Mitchell realizaram pousos forçados na floresta. Graças ao suporte da base no Amapá e da eficiente equipe de resgate, todos os tripulantes foram localizados e salvos no dia seguinte.
Encerramento e Legado
A base aeronaval do Amapá foi desativada em 30 de junho de 1945 e devolvida ao Exército Brasileiro. Apesar de sua breve existência, desempenhou um papel vital na proteção das rotas marítimas aliadas e no apoio logístico no Atlântico Sul. A contribuição dos dirigíveis e aeronaves de patrulha que operaram na base é uma prova da engenhosidade e cooperação entre Brasil e Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.
Conclusão
A base no Amapá foi um exemplo de como a colaboração internacional e o esforço humano podem superar os desafios mais extremos. Em meio à floresta amazônica, ela ajudou a garantir a segurança em uma das áreas mais remotas e estratégicas do mundo, deixando um legado duradouro na história militar e na relação Brasil-Estados Unidos.
Fonte da pesquisa: sixtant.net
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